
Multimétodo e Multi-informadores
“A avaliação e a investigação em psicopatologia (…) caracterizam-se por duas ideias fundamentais: por um lado, o recurso complementar a vários métodos de recolha de dados, e por outro, o envolvimento de diversos informadores.” (Simões, 1998, pág. 74)
Isto significa que, para aumentar a validade da informação recolhida por qualquer instrumento de avaliação, este deve ser complementado com outros métodos, isto é, devemos procurar conciliar a entrevista com a utilização de escalas de avaliação e o recurso à observação direta , ao invés de utilizar apenas um dos métodos. (Simões, 1998)
Simultaneamente devem ser recolhidas informações dadas por diferentes informadores. Por exemplo, se o sujeito a avaliar se trata de uma criança ou adolescente será pertinente que não só o sujeito seja alvo de entrevista e de resposta a escalas de avaliação, mas também os seus pais ou professores ou professoras. É preciso no entanto evidenciar que os relatos dos pais e dos professores por vezes não são completamente exatos e pode efetivamente não haver uma relação linear entre o comportamento da criança e o que é dito/escrito pelos pais ou professores ou professoras. No entanto, estudos mostram que proporcionam uma fonte de informação importante e válida, e como tal, deve ser considerada, ainda que, com a devida cautela. (Simões, 1998)
Os pais podem contribuir para a avaliação na medida em que se parte do pressuposto que conhecerão a evolução e desenvolvimento da criança e têm a possibilidade de observar o seu comportamento em diferentes contextos. Geralmente, procura-se que o pai e a mãe respondam separadamente à entrevista ou escalas de avaliação, sendo que, se os relatos forem concordantes, a informação é suscetível de ser mais válida. No entanto, mesmo que a informação seja divergente, tal não significa que algum deles esteja a mentir, pode simplesmente significar que o comportamento da criança é diferente com o pai e com a mãe, e essa contextualização deve ser tida em atenção. A informação proveniente dos professores ou professoras pode também ser de grande utilidade, na medida em que os professores na idade escolar passam muito tempo com os alunos. O depoimento dos professores permite obter informação sobre o comportamento da criança num contexto específico que é a escola – contexto que exige capacidades especificas de concentração, acatar ordens, socialização com outras crianças, etc. - permitindo assim identificar dificuldades de aprendizagem, problemas de socialização, …. Simultaneamente permite perceber o que é que os professores fazem para controlar o comportamento da criança e assim poder avaliar aspetos que estejam eventualmente a reforçar o comportamento. (Simões, 1998)
E se a informação dada por professores ou professoras e pais é divergente?
A informação dada pelos pais pode ser diferente da informação dada pelos professores. Tal facto pode-se dever a um problema situacional (por exemplo que só acontece na escola e por isso não é identificado pelos pais em casa). Outra possibilidade, embora mais remota, prende-se com o facto de que uma das partes pode estar a deturpar a informação ou simplesmente não ter noção da realidade.
Os professores podem ter uma tendência a desvalorizar comportamentos mal-adaptativos por terem receio das consequências para a criança (por exemplo, desvalorizar comportamentos de hiperatividade por receio de ser prescrito à criança Ritalina). Mas podem também sobrevalorizar os problemas da criança por acreditarem que tal ênfase possa trazer uma solução rápida. Apesar deste facto, quando existem incongruências entre depoimentos de pais-professores que não possam ser explicados por um problema situacional, geralmente é dada maior credibilidade à informação fornecida pelos professores ou professoras. Tal credibilidade prende-se com o facto de se considerarem pessoas especializadas no âmbito da educação e sobretudo pelo facto de que o elemento de comparação para definição de índices de gravidade é muito mais lato do que para os pais (i.e, os pais comparam o filho com o irmão ou primo por exemplo, enquanto que o professor pode comparar a criança em causa com os vários alunos que já teve e com outros casos que conheça de outros professores). (Simões, 1998)
Por fim, é importante evidenciar que aquilo que é dito ou escrito pelos informadores não representa a realidade, mas sim a realidade perspetivada por aquela pessoa em particular. (Simões, 1998)


Voltar para instrumentos de avaliação