
Surgimento da Psicologia da Educação enquanto Ciência
Em termos históricos, e ao longo do séc. XX, observamos diferentes interpretações assim como designações para aquilo a que apelidamos de psicologia da educação e que contribuíram para a sua designação atual.
Segundo Beltrán, Moradela, Alcaniz, Calleja & Santiuste (1990), a Psicologia da Educação tem um longo passado mas uma curta história abordando questões debatidas desde a antiga Grécia. No entanto, o impulso para o nascimento da Psicologia da Educação como área científica autónoma surge com o estabelecimento da Psicologia enquanto disciplina científica, um processo que se prolonga desde o renascimento até à criação do primeiro laboratório de psicologia experimental em Leipzig, em 1879.
Posteriormente, contam-se as influências de outros autores e correntes psicológicas como a Gestalt e a Psicanálise que pelas suas propostas teóricas e trabalho desenvolvido contribuíram decisivamente para o estatuto científico da disciplina e podem considerar-se precursoras da mesma. Nesta época de grande desenvolvimento para esta disciplina encontram-se nomes como Francis Galton (1822-1911), Stanley Hall (1844-1924), William James (1842-1910), James Cattell (1860-1944), Alfred Binet (1857-1911), entre outros, salientando-se a influência de John Dewey (1859-1952) pela sua proposta (ainda atual) de que a identidade e estatuto epistemológico da psicologia da educação passariam por considerá-la uma ciência-ponte entre a psicologia e prática educativa.
Com particular importância para a Psicologia da Educação, são de destacar as influências de Judd (1873-1946), Thorndike (1874-1949) (considerado o primeiro psicólogo da educação), bem como da escola da Gestalt e Piaget (1896-1980) pelo seu contributo para o estudo do desenvolvimento humano, nomeadamente no que respeita aos processos cognitivos.
Da psicanálise adota-se a centralidade de alguns temas educativos, como a importância dos primeiros anos de vida, os aspetos irracionais da conduta humana, a necessidade de afeto e de atitudes compreensivas, assim como o desejo de centrar a atenção na personalidade global e desenvolvimento integral da criança, mais do que na inteligência e motivação (Béltran, 1984 cit in Beltran et al., 1990).
Entre 1918 e 1914, a Psicologia da Educação passa por um período de afunilamento e ao longo desta etapa realizam-se alguns avanços em quase todos os domínios da disciplina. Por exemplo, os testes de inteligência de Binet contribuíram para consagrar a inteligência como indicador de maturidade intelectual e para o surgimento de medidas de avaliação atualmente utilizadas no âmbito da Psicologia da Educação.
A partir da década de 1940 verificou-se uma quebra tal no movimento ascendente da Psicologia da Educação que esta chegou mesmo a quase desvanecer. Contudo, entre 1960 e 1970, por imposição de Nathaniel Gage, o então presidente da 15ª Divisão da APA, a Psicologia da Educação recebeu um novo impulso, permitindo-lhe alcançar a posição que tem hoje entre as demais ciências, quer pelo sucesso do exercício da profissão, quer pela qualidade dos autores e investigação realizada (Beltrán et al., 1990).
A criação, em Portugal, da licenciatura em Psicologia, em 1977, enquadrada no Dec.-Lei 529/80 de 5 de Novembro, veio impor uma nova dinâmica no que se refere à investigação, ensino e prática profissional na psicologia em Portugal. Inicialmente, a maior parte dos psicólogos exercia funções em contexto educativo (cf. Bairrão et al., 1981, cit in Cruz, Almeida & Gonçalves, 1985), notabilizando-se, assim, a área da educação, como uma das áreas que mais contribuiu para o progresso e desenvolvimento da psicologia como ciência e profissão (Cruz et al., 1985).