
João Pedro - Um Estudo de Caso
1 – O que é, para ti, a dislexia?
Eu sou disléxico postural, a dislexia afeta principalmente a vista e o cérebro no individuo, visto que o cérebro processa rapidamente a informação, mais rápido do que o individuo consegue dialogar, o que leva a saltar letras, palavras e a atrapalhar se quando fala rápido ou se sente entusiasmado com algum tipo de tema de conversa.
2 – Com que idade e como descobriste que tinhas este distúrbio?
Eu descobri que era disléxico quando comecei a ser acompanhado por uma psicóloga aos doze anos de idade, devido ao meu fraco aproveitamento na escola.
3 – Consideras positivo o trabalho que desenvolveste com a psicóloga?
Todo o trabalho que desenvolvi com a psicóloga foi extremamente relevante tanto na minha vida escolar, como na minha vida pessoal. Ajudou-me a passar inúmeras dificuldades que, sem esse acompanhamento, não teria, de certo, sido capaz de ultrapassar.
4 – fala-nos sobre esta experiência.
Quando comecei as minhas consultas a dislexia não me foi logo diagnosticada, só passado um ano é que chegaram à conclusão de que era disléxico.
Durante esse tempo as minhas primeiras consultas foram mais para a doutora me conhecer e saber como interagir mais eficazmente comigo. A partir daí comecei a fazer diversos exercícios de memoria e perceção, envolvendo cálculos, desenhos, puzzles, jogos de palavras e um grande numero de textos para avaliar a minha leitura. Também me pôs a brincar com brinquedos, como por exemplo, com um conjunto de soldados de plástico com as respetivas maquinas de guerra, visto que era algo que eu demonstrava grande interesse, ficando assim a observar enquanto eu criava um cenário de guerra bastante complexo onde era necessária uma grande concentração da minha parte.
5 – Antes de descobrires que tinhas este problema, como era a tua vida em termos pessoais, interpessoais e escolares?
Era um rapaz que me distraia muito facilmente, quando andava na primaria brincava com qualquer material de estudo, como por exemplo, afiadeiras, lápis, canetas, borrachas, praticamente tudo a que consegui-a deitar as mãos durante o tempo de aula.
Dava inúmeros erros quando escrevia, e morria de medo que calhasse a mim a vez de ler, era algo que odiava fazer, achava-o extremamente confuso e quando lia em voz alta bloqueava e só desejava que me pedissem para parar e que começasse outro a ler, em muitos desses momentos quase me vinham as lágrimas aos olhos de tanta aflição.
Não conseguia prestar atenção nenhuma as aulas, nada me cativava, tudo perdia o interesse, principalmente quando tinha que ler e escrever, o pouco que me interessava era a matemática, pois aí era algo pratico, continha raciocínio e aí sim, demonstrava algum interesse.
6 – Como é esta intervenção alterou o teu dia-a-dia pessoal e escolar?
A nível escolar foi uma transformação assombrosa, comecei a usar uns óculos próprios com lentes prismáticas, comecei e ler muito melhor, a escrita evoluiu bastante e assim as minhas notas começaram a subir logo no meu primeiro ano depois de saber que era disléxico e ter começado a tomar as precauções necessárias.
Porem a nível pessoal foi um pouco diferente, uma das coisas que tive que começar a usar foi um apoio para os pés pois quando estava sentado tinha que ter os joelhos ao nível da cintura, e um plano inclinado para ler e escrever. Isso não foi visto com bons olhos a muitos dos meus colegas, pois as crianças conseguem ser maldosas, e mais uma vez comecei a ser posto de lado até parecia que tinha algum tipo de deficiência, que era inferior aos outros por isso não fazia mal gozarem comigo o que me levou muitas vezes a nem usar esses equipamentos que tanto necessitava, num esforço para me tentar integrar melhor. Mas com os anos a passar a aparecerem novos colegas e mais velhos, eram eles próprios que muitas vezes me iam buscar o meu material para eu usar, dizendo me que eu precisava deles para meu bem.
Foi um peso dos ombros que desapareceu, pois comecei a deixar de ser o motivo de riso e gozo, para uma pessoa normal como todos os outros, diferente sim, pois não há duas pessoas iguais no mundo, mas ficando ao mesmo nível dos outros, era igual não inferior.
7 – Tendo em conta a discriminação dos pares, qual foi a atuação da psicóloga e dos professores em termos de sensibilização?
Eu falei sobre esse assunto com a minha psicóloga e ela criou uns panfletos para uma aula com a minha diretora de turma para sensibilizar e informar o que era a dislexia.
8 – Como passou a ser o teu percurso escolar até hoje?
O meu percurso escolar tem vindo a melhorar ao longo dos tempos, hoje em dia já não necessito de utilizar os apoios para os pés, nem o plano inclinado, não apresento qualquer tipo de dificuldade a escrever ou a ler, sou um aluno normal como milhares de outros alunos e sinto-me extremamente orgulhoso por ter conseguido alcançar isso tudo.