
Estatuto Epistemológico
O estatuto epistemológico da Psicologia da Educação depende do facto de a considerarmos dependente ou independente da Psicologia, da natureza da investigação a realizar e dos diversos modelos teóricos.
Segundo Popper, o facto de haverem teorias que não podem ser verificáveis, não significa que essas mesmas teorias não sejam científicas ou que não tenham utilidade, pois o que é importante é que a teoria seja coerente entre os seus conceitos e que seja deduzida a partir de axiomas que sejam válidos (Marques, 2000).
Kunhn, na obra “A Estrutura das Revoluções Cientificas”, apresenta a sua teoria relativa ao que é a ciência e como ela se desenvolve, defendendo que a ciência é um processo de invenção, sendo as teorias abordadas por diferentes autores que tecem e organizam sistemas teóricos (Marques, 2000). O conhecimento científico não se desenvolve por continuidade e acumulação, mas sim por rupturas, o que se aplica à Psicologia e, em particular, à Psicologia da Educação, dada a emergência de modelos com os quais nos fomos deparando ao longo deste trabalho teórico. Há assim um ponto de vista que emerge, deslocando-se a comunidade científica para esse ponto de vista de observação da realidade que emerge, surgindo um paradigma novo que pretende substituir o paradigma anterior dominante. Nesta linha, o erro e as crises são fundamentais para a revolução científica (Marques, 2000).
Para uns, o facto da Psicologia, em geral, e da Psicologia da Educação, em particular, disporem de diversos modelos teóricos é encarado como falta de cientificidade, de rigor e falta de objectividade; enquanto que para outros é vantajoso pois possibilita um maior leque de interpretações dado que as diversas teorias poderão ser integradas, contribuindo para um saber mais aprofundado.
Esta parece ser a melhor atitude para com a diversidade de modelos existentes no campo da Psicologia e de todas as Ciências Sociais e Humanas.
(Marques, 2000)
Dadas as influências e invasões de campos disciplinares tão dispersos parecem tornar-se ilusórias as “alfândegas epistemológicas” que a deveriam proteger face a infiltrações ideológicas e filosóficas (cf. Avanzini, 1976, p. 88 citado por Barros & Barros, 1996). Este aspeto relaciona-se com o que Augusto Santos Silva, na linha de Gaston Bachelard, considera os três atos epistemológicos inerentes ao processo de produção de conhecimento científico – rutura, construção e verificação – necessários para que ocorra a rutura com os “obstáculos epistemológicos” que se lhe impõem (Silva, 2003, p. 52). Além disso, e de acordo com Beltrán et al., (1990), a solução da psicologia da educação passaria pela renuncia face a um reducionismo radical e pelo reconhecimento da existência de um pluralismo epistemológico natural (com enfoque comportamentalista, cognitivista, psicossocial, etc.). Deste modo, importa começar pela libertação dos reducionismos esterilizantes do passado e potenciar a aceitação de um pluralismo epistemológico, de acordo com a natureza pluridimensional do seu próprio objeto de estudo (Beltrán et al., 1990).